Vale Para Pensar...

Indecisão


E há uma insistência para se viver que me deixa a beira de um precipício. E quando olho para baixo vejo rosas espalhadas pelo chão. Sinto uma ânsia por cheiros de essência, talvez porque eu tenha perdido a que espalhava pelas ruas. Então sinto que devo pular, colher rosas para extrair perfumes. Mas todos diferentes pois não quero a essência fundamental, quero apenas aquelas misturadas à razão.
E quando busco impulso para o pulo, percebo que não posso pular. Depois não poderia voltar ao cume onde pretejo a razão. Mas quero pular, quero viver, há algo aqui dentro que insiste por perfumes, por aromas. Mas quero ficar, voltar as ruas da razão, há algo em mim que precisa do lógico, que necessita de filosofias. Tem algo dentro que me faz ansiar pelo pulo e pela razão assim como um pobre doente que sofre quer a cura e a morte ao mesmo tempo.
Mas sinto forças opostas a me puxar, forças de intensidades idênticas, forças que se anulam. E se quero pular, e se quero dar as costas e voltar, não importa, permaneço ali parada olhando. E a indecisão me faz não ter nada. Mas de repente, por impulso pulo. Queda rápida. Eis-me abaixo, junto a flores, flores falsas, representação barata de plástico. Ao longe aparentavam rosas perfumadas. Mas me enganei com falsas belezas, falsas sensações de prazer.
Cansada estou de tentar escalar. E o cansaço é tanto que ao chão, imóvel grito silenciosamente por socorro. Mas há apenas flores falsas ao meu redor. Fecho os olhos quando sinto que devo desistir. Cesso o grito. E quando sinto que devo abrir os olhos novamente vejo-me nas ruas da razão. Volto a andar por elas, mas há algo de diferente em mim. Sinto que há falsidade também ali, como se a razão escondesse também uma essência, essência numérica. E troco razão por razão, razões por razão, razão por razões a depender do valor que lhe derem.
E quando percebo que tudo é falso, que tudo não passa de representação, aparência, não tenho para onde ir. Vago entre rosas falsas e filosofias sem ponto de partida. Vago entre a ausência de vida e a ausência de explicação. Agora mesmo resolvi pular para depois fechar os olhos e abri-los novamente.

Paula Carine

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